terça-feira, 14 de junho de 2011

Longe dos pais, estudantes convivem 24 horas por dia na Escola Sesc

Instituição tem alunos do Brasil inteiro e teve 75% de aprovação em vestibulares para universidades públicas

Por Anderson Dezan, iG Rio de Janeiro

Foto: André Durão

Maria Clara de Avelar aproveita tempo livre para estudar em seu quarto na Escola Sesc


De segunda a sexta-feira, a estudante Maria Clara de Avelar, de 15 anos, desperta às 6h50, toma café da manhã às 7h10 e, 10 minutos depois, já está dentro da sala de aula pronta para mais um dia de estudos. O horário apertado, que seria um problema para muitas adolescentes, para ela não é. A jovem é um dos quase 500 alunos que estudam e moram na Escola Sesc de Ensino Médio, junto com professores.
Criada em 2008, a instituição de ensino segue o modelo escola-residência e recebe alunos de todo o Brasil. No campus de 130 mil metros quadrados, localizado na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, os adolescentes – com idades entre 14 e 18 anos – estudam em tempo integral.
Durante a semana, as aulas vão das 7h30 até as 16h45, com uma hora de almoço. Após esse horário os jovens participam de recuperações paralelas em disciplinas que encontram dificuldades, estudam na biblioteca, fazem lanches e jantam. As atividades só são encerradas às 21h30, quando todos se recolhem para seus apartamentos. Meia-hora depois, as luzes se apagam.
“Temos muitas atividades durante o dia e, por isso, precisamos organizar bem o nosso tempo. Dia desses, minha mãe me ligou e começou a fazer várias perguntas, cheia de saudades. Eu estava muito ocupada e disse: ‘Mamãe, posso te ligar depois?’. Ela respondeu: ‘Minha filha, você não tem mais tempo para mim?’”, relembra Maria Clara de Avelar, aluna do 1º ano, natural de Vitória da Conquista (BA).
                                            Foto: André Durão                                            

Campus da Escola Sesc ocupa um terreno de 130 mil metros quadrados na zona oeste do Rio


As turmas – 11 por série – contam no máximo com 15 alunos cada para facilitar o aprendizado. Na grade curricular, a carga horária de língua inglesa é equivalente à de português, para que todos saiam fluentes no idioma estrangeiro. Durante as aulas, os estudantes vão mudando de sala e há bicicletas espalhadas pelo campus para facilitar o deslocamento até os locais mais distantes.
Além da jornada puxada durante a semana, aos sábados os jovens têm mais atividades, como cursos de capacitação profissional pela manhã. Tempo livre só após às 13h. A carga horária escolar deu resultado com a primeira turma formada. Cerca de 75% dos alunos foram aprovados em vestibulares para universidades públicas.
Residência
Para receber os alunos e professores, a Escola Sesc tem vilas residenciais. Os estudantes do 1º e 2º ano vivem em apartamentos com capacidade para três pessoas, localizados em blocos divididos por sexo. Nos prédios também moram alguns professores que ficam com a responsabilidade de coordenar a organização dos adolescentes daquele bloco.
Os demais docentes vivem com suas famílias em uma vila residencial destinada para eles. Nessa ala também moram os alunos do 3º ano. Como parte do processo de amadurecimento, nessa etapa eles passam a viver em esquema de república em apartamentos com até nove estudantes cada um.
“A experiência é fantástica tanto na parte acadêmica, quanto na parte residencial. Isso aqui é diferente de tudo o que vemos por aí, principalmente nas escolas públicas”, diz Nick Deleon, de 16 anos, aluno do 3º ano, natural de Porto Velho (RO). “Chegamos aqui muito novos e logo desenvolvemos o senso de maturidade. Convivemos com pessoas de lugares distintos, com costumes próprios. Aprender com essas diferenças é muito importante”, completa.
 
Foto: André Durão
Luciano Moreira na sala de seu apartamento: professor exclusivo da Escola Sesc
Professor há 22 anos, Luciano Moreira integra o corpo docente da Escola Sesc desde o início do projeto. Ele, a esposa e o casal de filhos, no entanto, só passaram a morar na escola no ano seguinte, em 2009. Residindo em um apartamento com três quartos, cozinha americana e ar-condicionado central, Moreira diz estar satisfeito por ter optado em ser professor exclusivo da instituição, norma obrigatória entre os docentes.
“É um projeto apaixonante que me fez abrir mão de tudo. A troca diária com os alunos é espetacular. Não tem salário que pague isso”, avalia o professor.
Saudade
Como os alunos moram distantes de suas casas, a escola oferece a eles apoio psicológico em período integral. São muitos os estudantes, principalmente os novatos, que sofrem com a ausência dos pais e procuram a ajuda. Professores e alunos mais antigos também costumam receber os que chegam de maneira afetuosa para que eles se sintam bem.
Maria Clara de Avelar conta que nos primeiros dias a saudade ficava ainda maior quando falava com os pais por telefone. “Vinha aquele aperto no peito, aquela vontade de chorar. Com tempo, fui me acostumando”, diz a adolescente, que está a aproximadamente 1.170 km de casa.
Mesmo já estando em seu último ano na Escola Sesc, Nick Deleon confessa que de vez em quando a saudade de casa aperta. “Não tem como eliminar. Mas aquela insegurança inicial não existe mais”, conta o estudante, que como mora em Porto Velho (RO), só retorna nas férias de julho ou do final do ano. “Quando estamos aqui, sentimos saudades de lá. Mas quando chegamos lá, sentimos saudades daqui”, relata, rindo.

Foto: André Durão
Alunos estudam na biblioteca da Escola Sesc de Ensino Médio
Morador do bairro carioca de Campinho, Pedro Henrique Barboza, de 16 anos, está a somente a 9 km de distância dos pais. Para ele e os demais alunos que vivem na capital fluminense, há a possibilidade de retornar para casa em alguns finais de semana. O adolescente, entretanto, dificilmente faz isso.
“Vale a pena ficar no colégio, seja para estudar, já que temos muitas atividades, ou para apenas ficar com os amigos. Os pais acabam entendendo”, diz o adolescente. Mas nem sempre foi assim. “Nos seis primeiros meses, voltava quase sempre para casa. Aí comecei a ouvir de colegas que ia acabar não aproveitando o colégio. Fiquei uma vez para experimentar e gostei”, relembra o aluno do 3º ano.
Processo seletivo
Estudantes de todo os Estados do Brasil podem concorrer às vagas da Escola Sesc. A inscrição é feita no site da instituição de ensino, onde é divulgado o edital de seleção. A primeira etapa é uma prova de português, matemática, conhecimentos gerais e redação. O exame é realizado no mesmo dia e hora em todo o País.
Os alunos que obtêm nota de classificação passam para a segunda etapa do concurso, uma entrevista com os candidatos e seus responsáveis. As inscrições para o ano que vem estão abertas e podem ser feitas até o próximo dia 17 de junho. No total, são oferecidas 159 vagas para a 1ª Série do Ensino Médio.


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