terça-feira, 25 de agosto de 2009

HISTÓRIA DOS FESTIVAIS TELEVISIVOS


Há quase trinta anos, mais precisamente na noite de 28 de setembro de 1968, Caetano Veloso era quase que literalmente espinafrado no palco no Tuca, Teatro da Universidade Católica em São Paulo. O episódio – que fez Caetano reagir a uma chuva de ovos e tomates com um dos mais contundentes discursos da história recente do país – faz parte de um dos mais interessantes capítulos da música popular brasileira: o que trata dos festivais da canção.

Celebrados por uns, execrados por outros, os festivais de música popular são importantes para o processo de formação da atual música popular brasileira. Por eles passaram compositores da grandeza de Tom Jobim, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Milton Nascimento, Edu Lobo, Geraldo Vandré, Toquinho, Paulo César Pinheiro... Também não foram poucos os intérpretes que chegaram ao sucesso pela via do vestibular dos festivais. Elis Regina, Jair Rodrigues, Os Mutantes, Gal Costa, Amelinha são alguns nos intrépidos intérpretes (não deu pra resistir ao trocadilho) que se arriscaram a levar as mesmas vaias, ovos e tomates que despertaram a ira de Caetano, tudo em busca de um lugar ao sol no cenário da MPB. Mas por onde andam os festivais? O que aconteceu com uma das principais vitrines da música popular no país? Que formas os festivais têm hoje?

Tentando responder a essas e outras questões, embarquemos numa viagem pelo tal túnel do tempo para reviver o melhor e o pior dos festivais. Quando surgiram, as histórias dos bastidores, as revelações, as injustiças, um histórico dos principais festivais do Brasil, a participação destes na vida sociocultural do país... Nas próximas páginas, vamos relembrar um pouco dessa história. Do acesso de fúria de Sérgio Ricardo, quebrando seu violão e lançando-o sobre a platéia em 67, ás vaias para Purpurina em 81. Vamos lembrar das discussões sobre qual música é a melhor, se Sabiá ou pra não dizer que não falei das flores, que dividiram o público em 68, da polêmica intervenção do regime militar no resultado do FIC de 72 e de muitas outras histórias dos bastidores.

A palavra “festival” pode compreender eventos tão diversos quanto o Rock in Rio Festival. Um mega-evento de números astronômicos, e os festivais de inverno das cidades do interior do país. Entre um extremo e outro, há uma infinidade de encontros, concursos, saraus, entre outros et céteras musicais, todos sob o título de festival, competitivos ou não. Fora da esfera da música, então é um festival de festivais. Festival do Vinho de Sei-lá-onde, Festival da Soja de Algum Lugar, Festival de Dança de Ali Longe, Festival Agropecuário de Onde Judas Perdeu as Botas e por aí vai.

Mas o que ficou conhecido como “os festivais” são, na verdade, os festivais de Música Popular que nasceram e tiveram seu auge de popularidade nos anos 60.Mais precisamente entre os festivais realizados entre 1966 e 1968, período que pode ser considerado “a era de ouro dos festivais”. Entre vários concursos diferentes, dois tiveram um papel decisivo para a construção da idéia que se tem hoje sobre essa época áurea dos festivais: o Festival de Música Popular da TV Record e o Festival Internacional da Canção, o FIC.

Na segunda metade da década de 60, principalmente, esses festivais sacudiram o Brasil anualmente e levaram multidões aos auditórios e ginásios, promovendo uma febre popular só comparável ao carnaval. Em artigo entitulado Cantiga por este Rio, de 13 de outubro de 69, Edgard de Alencar definiu da seguinte forma o fenômeno dos festivais: “Um dos acontecimentos maiores talvez do mundo e o maior do Brasil como festa para o povo, só cedendo lugar ao honroso Carnaval carioca”.

Seja pelo prestígio desses dois concursos, pela veiculação na TV ou pelos prêmios oferecidos, tanto os Festivais da Record quanto os Festivais Internacionais da Canção conseguiam reunir e lançar a nata dos novos compositores do país, o que só fazia crescer o status de ambos e de seus participantes. Tudo, porém, teve início bem antes, longe dos auditórios de TV e de ginásios como o Maracanãzinho. Sem muita mídia, sem muito glamour, mas enfim, já com o embrião dos grandes festivais da canção.

Fonte : Revista Backstage - Edição 45 por Luis Alexandre Coelho

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